Start main page content

DR # 293 Factores de conflictualidade em Moçambique

- Ruth Castel-Branco

“Dói porque não é normal estudar e ser desempregado. A frustração até pode dar uma trombose. Sem emprego, vamos ficar marginais, queimar infraestrutura, queimar

O Nildo, (24 anos) nasceu no distrito de Ribáuè. Os seus pais eram camponeses. Com as quinhentas que conseguiram poupar, enviaram o Nildo à escola. Quando ele concluiu os seus estudos secundários, aventurou-se à cidade de Nampula, onde trabalhou como empregado doméstico, enquanto procurava um emprego na função pública. Desesperado, inscreveu-se nas Forças de Defesa e Segurança, mas o salário era mísero e, quando ele teve a oportunidade de desmobilizar, aceitou. De volta a Ribáuè, o Nildo esperava trabalhar no Corredor de Desenvolvimento de Nacala, mas não teve sucesso, pois, segundo ele, só contractavam vientes. Então, ele improvisou uma barraca de chinelos, mas o negócio faliu por falta de mercado. Para o Nildo, a sua indignação não surge apenas de expectativas não atendidas; é resultado das suas experiências da desigualdade, da sensação de que, enquanto uns, apertam os seus cintos, outros, alargam os seus.

Como este texto irá analisar, Moçambique é um dos países mais desiguais do mundo. A estrutura extractivista da economia moçambicana tem contribuído para o aumento da desigualdade de renda, através da expropriação de terras e de recursos naturais, a casualização do emprego e exclusão económica, e a imposição de políticas de austeridade. Hoje, 65% da população vive abaixo da linha nacional de pobreza (MEF, 2024a). Como explica a antropóloga moçambicana Alcinda Honwana (2014), a exclusão económica e social, da juventude em particular, é a principal razão por detrás dos movimentos de protesto no continente africano. Se estes movimentos possam conseguir traduzir as suas reivindicações numa agenda política mais ampla, é uma questão que se mantém em aberto.

Leia mais

Share